A ideia de criar esse trabalho surgiu da observação do movimento das ondas do mar revolto bem como o som que elas emitem ao se chocarem, unidos a leitura do livro de contos “Escarcéu de corpos” de Jorge Marinho escrito em 1984, que traz uma reflexão envolvendo a essência humana dentro do contexto de: solidão, amor, preconceito, alienação e aceitação. Essa obra literária tornou-se uma fonte de inspiração e um instrumento imagético para o estudo do corpo e suas ações.
Escarcéu também propõe uma hipérbole do real, do absurdo cotidiano, desnudando a superfície das coisas com as quais o homem se habituou a viver, suas relações com o exagero, onde se revela a ideia de que viver no absurdo é tão comum que um momento de sensibilidade é ilusório e irreal. Toda a composição coreográfica, bem como a paisagem sonora (construída na hora) vem da observação do encontro de ondas, formando um escarcéu, numa movimentação que se reflete num ciclo sem fim de ondas que se arrastam, que se chocam, que destroem num constante fluxo de movimento que é por vezes inacabado, num tsunami de imagens e sensações.